17 de abr. de 2008

Falta medicamentos para transplantados na Unesp

A falta de medicamentos a pacientes transplantados de rim instalou a maior crise já enfrentada no departamento médico que cuida do tema, no Hospital das Clínicas de Botucatu. "Estamos caminhando para uma perda em massa dos transplantados renais", avisa a vice-presidente da Associação de Apoio dos Transplantados de Órgãos, Tecidos e Pacientes Renais, Ângela de Oliveira.

Desde o começo do mês não acontece mais a entrega de medicamentos pela farmácia de alto custo instalada no Hospital das Clínicas. Isso pode prejudicar os rins transplantados, devido à rejeição ao órgão recebido.

A responsabilidade da entrega do medicamento é do Departamento Regional de Saúde de Bauru (DRS-6). "Tem gente que está desde domingo sem tomar a medicação. O pior é que a previsão de entrega dada para nós é apenas no próximo dia 30", comenta Ângela Oliveira.

Marlene Massarico doou o rim para o filho Diego (15) que foi transplantado há oito anos. "Estamos dando um grito de socorro. Meu filho tem muito para viver. Cheguei a pensar em pedir para o médico tirar meu segundo rim para doá-lo a meu filho", disse emocionada.

Ela lembra que já constatou a morte de uma criança porque o pai esqueceu de dar a medicação a seu filho, por falta de informação. "Ele parou a medicação dois dias e o menino faleceu. Estou emprestando medicamento. Chegará uma hora que não teremos mais o que fazer", afirma ela, desesperada.

Rosemeire Galvani (41) também doou o rim ao marido João Ferbando Galvani (54). "Não estamos preocupados em achar culpado, mas sim descobrir o que fazer", disse o marido que está também tomando medicamentos emprestados.

Filho sem remédio - Manoel Aparecido Savariego diz que a espera por uma solução à falta de medicamento é angustiante sabendo que a pessoa afetada é o seu filho Tiago de 19 anos. "Não podemos perder mais um segundo para resolver isso", diz.

João Afonso Lucheta, presidente da Associação de Apoio aos Transplantados de Órgãos, Tecidos e Pacientes Renais, é testemunha do sofrimento que é a diálise, tratamento que muitos podem voltar a fazer se perderem o rim. Ele ainda não conseguiu ser transplantado. Espera por isso há quatro anos.

"Tem muita gente nos ligando sem o remédio há um mês", avisa Lucheta, que enfrenta 15 horas de diálise por semana. São três visitas ao Hospital das Clínicas de Botucatu a cada sete dias. Botucatu tem 250 pacientes transplantados com acompanhamento no HC-Botucatu.


"Vamos perder o rim de todo mundo", denuncia médica
A médica Maria Fernanda Carvalho, responsável pelo Departamento de Transplante Renal, afirma que apesar de não ser de sua responsabilidade entregar medicamentos a pacientes, as pessoas recorrem a ela em busca de informações. "Liguei no DRS-6 - Departamento Regional de Saúde de Bauru. Estão vindo seis mil comprimidos amanhã [hoje], mas isso não é nada. Dá para uma semana. Não dá para todos. Seriam necessários 17 mil para o mês todo", informa a médica.

Ela diz que o medicamento emprestado entre pacientes não é devolvido por quem pediu porque a farmácia de alto custo não repõe os atrasos. O custo de cada caixa de comprimidos é de R$ 1.700. "A coisa está muito caótica. Na farmácia falam que o remédio vai chegar no dia 30. Nesse prazo vamos perder o rim de todo mundo. Perderemos um serviço de 21 anos. Temos pessoas transplantadas de 21 anos atrás que vão perder o rim pela falta de compromisso da Secretaria da Saúde", desabafa.

Dependendo do remédio, diz ela, pode haver a espera. "Hormônio de crescimento, se a criança ficar sem tomar ela vai crescer um pouco menos naquele mês, mas no caso do transplantado, se ficar 15 dias sem tomar o medicamento pode perder o rim. Esses mesmos pacientes ficaram esperando serem sorteados na fila do transplantes", lembra.

A Faculdade de Medicina de Botucatu já fez 350 transplantes. Todos tomam remédios já que o uso é contínuo. Só muda a quantidade de um paciente a outro. Ela diz que só em Botucatu está faltando remédios. Em outras cidades, como Bauru, a entrega está normal.

"Crise a gente tem sempre. É raro ter todos os medicamentos. Mas nunca tinha acontecido do paciente chegar para retirar a medicação e dar um prazo de 15 dias. Já estou começando a internar pacientes com rejeição [ao órgão]", disse a médica Maria Fernanda.

Para Estado, não existe falta de medicamentos em farmácia
A assessoria da Secretaria Estadual da Saúde informou que não existe falta de remédios na farmácia de alto custo. A entrega de 6 mil comprimidos do Micofenolato ocorreu hoje. Também negou reclamação da falta de remédios para Esclerose Múltipla: Rebfe e Anorex (diz que foi entregue ontem) e Betaferon (afirma que será disponibilizado na próxima semana). (Com Diário da Serra). (Fotos da matéria são meramente ilustrativas, sem vínculos diretos com os assuntos mencionados).