20 de mar. de 2008

Novaes: Água ruim é responsável por 70% das internações de crianças

O jornalista Washington Novaes (TV Cultura) participou quarta-feira do último dia do II Encontro Regional de Recursos Hídricos realizado no Teatro Municipal Camillo Fernandez Dinucci, em Botucatu. As atividades começaram na segunda-feira com participação também de Bofete, Pardinho e Itatinga.

Um dos pontos discutidos por Novaes no encontro foi a problemática em torno da água quando o assunto é poluição. "70% das internações de crianças na rede de saúde pública são por doenças veiculadas pela água e 80% das consultas de crianças pediatras na rede pública são também são por doenças veiculadas pela água, como diarréia e infecções intestinais", informa.

A principal causadora desse problema hoje, afirma ele é a poluição. "Temos uma porção de fatores influindo na qualidade da água. Talvez o maior poluidor é a falta de tratamento de esgotos. No Brasil, metade da população sequer tem rede de coleta do esgoto. E dos esgotos que são coletados 80% são devolvidos aos rios e aos córregos sem nenhum tratamento. O que é tratado, só se retira metade da carga orgânica e a outra metade vai para os rios. É uma quantidade brutal se considerado que cada pessoa produz em média 200 litros de esgoto por dia", cita.

Perda da biodiversidade - Ele ainda cita a poluição industrial. "Ela é pesada, também tem a agrícola, o lixo rural e a questão dos nutrientes que vão parar os rios e córregos. Saiu um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) dizendo que chegam nos mares e oceanos 100 milhões de toneladas de nitrogênio por ano. São fertilizantes usados no mundo inteiro e que a chuva carreia para dentro da água. Esse é o principal motivo da perda da biodiversidade marinha".

Pagar pelo lixo - O ônus para a poluição, como do lixo, segundo ele deve ser de quem o produz. "O custo da coleta tem que ser de quem gera, seja domiciliar ou industrial. No mundo inteiro já existe isso. Na Alemanha é assim. Conforme o tamanho do contêiner que a pessoa usa vai pagar proporcionalmente uma taxa. Esse sistema é sustentado por produtores de lixo seco. O gerador paga proporcionalmente à sua produção, com isso, os produtores de embalagens passaram a produzir embalagens menores e rótulos mais leves para que as taxas pagas por deles serem menores. Com isso, o lixo seco na Alemanha, em oito anos, diminuiu 15%, o que não é pouco", afirma.

Aqüífero – Esse reservatório de água que é Aqüífero Guarani, segundo Novaes, enfrenta uma situação preocupante. "Acho que Brasil não cuida bem do aqüífero. Tem vários lugares que a retirada de água já é maior que a reposição e pode comprometer o Aqüífero. Em alguns lugares há poluição, principalmente a química, na região Ribeirão Preto, Prudente e São Paulo", informa.

Ele lembra que existem alguns estudos que mostram que o Aqüífero não é único, pois divide-se em compartimentos isolados. "Isso torna ainda mais agudo o problema do aqüífero. Como ele é compartimentado a reposição é mais complicada porque precisa ser feita naquele compartimento específico. Os estudos sobre ao Aqüífero estão ainda muito no começo. Existem estudos nos vários países do Aqüífero patrocinado pelo BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), mas o Brasil precisa tomar cuidado".

Água exportada - O jornalista também comentou sobre o que estudiosos chamam de exportação virtual. "O mais complicado de tudo é a exportação virtual de água que está embutida nas exportações de comodites que o Brasil faz. Estudos do Fórum Mundial da Água diz que para você produzir um "quilo de boi" é preciso 15 mil litros de água, para o porco são 8 mil litros e frango 4 mil litros. Quando se exporta um quilo de carne de frango você também envia 15 mil litros de água", disse.

Segundo ele, o Brasil exporta produtos baratos e fica com os custos sociais e ambientais. "São os importadores que definem os preços. Tem produto que se a gente fizer a correção pelo valor real vai perceber que o Brasil exporta a preços inferiores aos que vigoravam na recessão de 1930. Assim, o Brasil está contribuindo para a riqueza e o bem-estar do primeiro mundo. Eles não precisam sacrificar o seu meio ambiente e colocam o preço que querem nos produtos", critica.

Fotos: Cléber Novelli