19 de jul. de 2013

Aconchego aos idosos surgiu de uma história de vida

** Por Maria Helena Jorge Branco

Boa noite Senhor Presidente da Câmara, Srs. Vereadores, e boa noite a todos os presentes.

Um dia de setembro de 1995 um homem sem dor, lúcido, andando, com um livro embaixo do braço, entra no hospital da Unesp e 4 meses depois sai demente, cheio de dores e de escaras e sem as duas pernas, e vem pra casa para ser cuidado por alguém que não sabia lidar direito com aquela situação. A vida de toda a família vira de pernas para o ar. E aquela pessoa que era boa no trato, doce, afável, poliglota dotado de uma inteligência que era como um sol que não tinha como esconder seu brilho, torna-se agressivo, desorientado e quem falava 5 línguas, não sabia contar em português, o que queria e o que sentia.



E ai um dia, dona Nair, a nossa Nair, que eu não conhecia, entra na minha casa para entrevistar o meu doente, o meu marido, e me convida para fazer um curso para cuidadores que estava acontecendo no Centro Escola do Bairro. Fui, e na apresentação, quando foi perguntado a cada frequentadora do curso, porque estava ali, a resposta de cada uma dessas mulheres era, cuido do meu marido, outra - cuido da minha mãe, outra - cuido de minha sogra - claro - eram só mulheres as que foram fazer o curso. E quando nos foi perguntado se alguém tinha alguma ideia, sobre como lidar com isso, como melhorar essa situação de cuidador e do idoso, foi sugerido, um centro de convivência só para idosos que tivessem limitações físicas ou psicológicas, ou as duas. Cada uma de nós argumentou: o cuidador não sabe direito como agir, não há orientação adequada para ele, ele não tem ajuda da família na maioria das vezes, nem financeira, nem operacional; resumo da ópera, ele o cuidador é um solitário em seu trabalho.

E dessa união de desabafos e de queixas, nasceu a ideia do Aconchego, nome esse sugerido pela Nair. E começamos a trabalhar, a pensar, a sonhar nosso centro de convivência. E como sonhar não paga imposto e não lesa ninguém - sonhamos alto - sonhamos um lugar onde o idoso fosse acolhido, estimulado, paparicado e querido; sonhamos um lugar, onde a família desse idoso fosse orientada e ouvida e sonhamos um lugar onde o cuidador - esse que não tem espaço pra viver sua própria vida, que não tem quem o ajude, esse cuidador, seja acolhido, orientado, num espaço onde ele se encontre com outros cuidadores, ouça também as dores dos outros, e juntos recebam carinho, conforto, solidariedade e orientações. E que o psicólogo que ouve seu idoso, o ouça também, relativize e o absolva de seus sentimentos de culpa. E esse Aconchego que sonhamos está hoje, 13 anos depois, em toda plenitude. Já somos de utilidade pública municipal, estadual e com a Federal, prestes a ser aprovada. Somos hoje referência em cuidados com idosos.

Temos instalações bonitas, úteis, adequadas e confortáveis e contamos com uma equipe de funcionários e técnicos em todas as áreas necessárias à esse atendimento: 2 psicólogos, 2 fisioterapeutas, assistente social, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, coordenadora técnica, coordenadora  administrativa, secretária, enfermeiro e cuidadores. Pensamos e implantamos esse centro de Convivência, sob o signo da sorte. Fomos desenvolvendo devagar, um passo de cada vez, mas com firmeza, com segurança.

Hoje atendemos 100 idosos ao mês, divididos em idosos sadios e idosos comprometidos.

Na parte da manhã temos por norma fazer um trabalho preventivo com idosos que tem sua independência, raciocínio e mobilidade assegurados com oficina da memória, oficina da voz, dança sênior, atendimento de artrite e artrose e caminhada.

Também na parte da manhã, há visitas domiciliares com orientações às famílias sobre cuidados com acamados pelo enfermeiro e pelas fisioterapeutas, bem como há aplicações de laser em feridas e escaras.

Na parte da tarde atendemos da 1 às 5h os idosos que são portadores de Alzheimer, Parkinson, demências, deficiências visuais e auditivas, bem como a mutilados. Damos a esse idosos, atividades que a patologia de cada um permita desenvolver: bingo, pintura, quebra-cabeças, jogos de montar, de damas; fisioterapia, dança sênior, bate-papos, contação de causos, filmes e música e como ninguém é de ferro, um lanche bom, balanceado, atendendo às exigências do estado de saúde de cada um.
A cada mês há uma reunião com as famílias, e a cada 15 dias há uma reunião específica dos cuidadores, para serem ouvidos e orientados.

Como tocamos financeiramente o Aconchego? Temos e procuramos cada vez mais por sócios contribuintes. Com uma contribuição mensal a partir de 30,00 reais, com um boleto que é mandado em sua casa, o nosso contribuinte colabora para que tenhamos uma receita fixa por mês, para nossas despesas que não são poucas. Temos uma verba anual que a prefeitura nos destina, mas que só ela não cobre as nossas despesas, mas sabemos que toda vez que precisamos que a Câmara Municipal aprove alguma verba a nós destinada, ela, Câmara, sabedora de nosso trabalho, da seriedade com que ele é feito, sempre aprovará.

Para complementar as nossas necessidades, periodicamente fazemos eventos como jantares, almoços, festas juninas e nossa tradicional festa do Queijo e Vinho no mês de Setembro; e senhores vereadores, podem esperar que quando setembro vier, estarei aqui dando aos senhores a oportunidade de comprarem seus convites. Com esse painel exposto por mim sobre o trabalho do Aconchego, quero mostrar a todos a importância do atendimento à velhice em nossa terra, que é um dos lugares do estado de São Paulo que tem mais idosos, a importância dada as famílias e aos cuidadores para que esses idosos tenham um final de vida digno, com carinho e assistência e que os cuidadores tenham um espaço de acolhimento e compreensão ao trabalho que desenvolvem.
Não podemos deixar de agradecer aos governos municipais passados e atual, aos voluntários que nos ajudam a complementar o trabalho que desenvolvemos e a toda equipe que trabalha no aconchego. 

Gostaria agora de passar um vídeo, mostrando aos senhores o Aconchego em sua atividade.

Obrigada a todos.


Maria Helena Jorge Branco - coordenadora do Aconchego.

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