Botucatu se prepara para fazer uma justa homenagem aos maiores
indigenistas e sertanistas brasileiros: os irmãos Orlando, Cláudio, Leonardo e
Álvaro Villas Boas. Na próxima sexta-feira (16), às 14 horas, a Prefeitura
realizará a cerimônia que denominará de Floresta Municipal “Irmãos Villas Boas”
a área de pouco mais de oito hectares, localizada junto a Escola do Meio
Ambiente (EMA), que foi cedida ao Município pelo Governo do Estado em 1984, na
primeira gestão do prefeito Jamil Cury.
“Além de terem sido decisivos para
a criação de uma política indigenista em nosso País, os irmãos Villas Boas
deram uma grande contribuição para o processo de integração do Brasil. Muita gente
não sabe, mas três desses grandes brasileiros (Orlando, Cláudio e Leonardo)
nasceram aqui em Botucatu. Para nós isso é motivo de imenso orgulho, mas
faltava uma homenagem da cidade à altura da contribuição que deixaram para o
País”, afirma o prefeito João Cury Neto.
O evento que denominará a floresta de “Irmãos Villas Boas” acontecerá na
sede da Escola do Meio Ambiente (EMA), na Estrada Municipal José Ítalo Bacchi
s/n, no Jardim Aeroporto. Além do prefeito João Cury Neto e autoridades locais;
diversos parentes e descendentes dos irmãos Villas Boas já confirmaram
presença. Entre eles, Orlando Villas Boas Filho e Marina Villas Boas,
respectivamente filho e viúva de Orlando Villas Boas.
Também estarão presentes, a presidente do Instituto Humanitare (ligado a
Nações Unidas), Sheila Pimentel; a Embaixadora do Ano Internacional das
Florestas Brasil e apresentadora da TV Record, Chris Flores e da representante
da Rede PEA-Unesco, Eliana Baptista Pereira Aun.
Os Villas Boas
- Orlando, Cláudio, Leonardo e Álvaro Villas Boas se notabilizaram pelo
trabalho de contato e proteção dos índios brasileiros e a construção de uma
política indigenista no Brasil. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai),
os Villas Bôas começaram a estabelecer contato amistoso com os povos que vivem
nas cabeceiras do Rio Xingu na década de 40.
Após esse trabalho, que iniciou a criação de laços de confiança com
falantes de quatro famílias linguísticas diferentes, os irmãos decidiram
permanecer no Xingu. O objetivo era desenvolver um programa de proteção aos
índios, com a garantia de um território onde pudessem manter seus modos
tradicionais de organização social e econômica.
Em grande parte, devido à ação dos Villas Bôas, em 19 de abril de 1961
foi assinado o decreto de criação do Parque Nacional do Xingu. A reserva foi
dirigida pelos irmãos durante vários anos.
Orlando Villas
Boas - Nascido numa fazenda de café em Botucatu, em 12 de
janeiro de 1914, era filho de fazendeiros. Trabalhou em escritório de advocacia
e serviu ao Exército — onde só obedecia “às ordens que julgava certas”. Depois
de um período na área de contabilidade da Esso, pediu demissão e foi com os
irmãos para o Mato Grosso, atrás da Marcha para o Oeste, em 1943. Numa época de
Brasil rural, quando consciência ecológica era algo impensável, os Villas Bôas
optaram por manter o verde em vez de asfaltar.
Enfrentou o desafio de fazer o que acreditava ser certo. Mudando a
mentalidade de uma expedição desenhada para massacrar, os Villas Bôas
reescreveram a história da colonização do Brasil central. No lugar do rifle,
adotaram o abraço, o respeito e a palavra. No contato com os índios, as lições
aprendidas com o Marechal Rondon: “Morrer se for preciso; matar nunca”.
Passaram por cima de interesses religiosos e comerciais e ainda formaram uma
geração de líderes indígenas, como o cacique Aritana dos iaualapiti —
verdadeiro estadista.
Defendeu a necessidade de instalação de um parque indígena, o que é
atendido em 1961 com a criação do Parque Nacional do Xingu pelo presidente
Jânio Quadros. Orlando dirige o parque de 1961 a 1967 e toma parte nas
negociações para a convivência pacífica das dezoito nações indígenas lá
instaladas. Participa ainda dos primeiros contatos com os txicãos (1964) e os
crenacarores (1973).
Aposenta-se em 1975, mas continua a trabalhar e a defender o direito dos
índios de viverem em uma sociedade separada da dos brancos. Publica diversos
livros, entre eles Marcha para o Oeste, com a história da Expedição
Roncador-Xingu, ganhador do Prêmio Jabuti 1995 de melhor reportagem. Em 1997
lança o livro Almanaque do Sertão, em que narra seus 45 anos de andanças pelas
matas brasileiras. A Fundação Nacional do Índio (Funai) o demite por fax no
início de 2000 por acumular um salário com uma aposentadoria, o que não era
permitido. Mesmo com convites para voltar, prefere continuar prestando
assessoria à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde trabalhou
por 34 anos.
A Escola de Medicina de São Paulo enviou carta à Real Academia Sueca, em
Estocolmo, apoiando a candidatura de Cláudio e Orlando Villas Bôas ao Prêmio
Nobel da Paz de 1971, lançada pela Sociedade dos Povos Primitivos, de Londres,
por iniciativa do sertanista britânico Adrian Cowell. A informação foi dada no
Rio de Janeiro pelo professor Noel Nutels, que manifestou seu propósito de
deflagrar uma campanha pública para conseguir a adesão de novas instituições à
candidatura dos dois sertanistas brasileiros.
No mesmo ano (1971), Madre Teresa de Calcutá também era candidata.
“Quando eu soube, desisti de concorrer. Ela merecia muito mais do que eu.”
Morreu aos 88 anos (12/12/2002), no Hospital Albert Einstein, na capital
paulista, de falência múltipla dos órgãos.
Cláudio Villas
Boas - Nasceu em Botucatu, em 1916. Chefe da vanguarda da
Expedição Roncador-Xingu, que atravessou pela primeira vez o território
xavante, voltou ao posto Diauarum em 1951, depois que a expedição se encerrou,
e radicou-se ali. Entre 1957 e 1958 chefiou outra expedição, que, partindo da
Serra do Cachimbo, no sudoeste do Pará, chegou aos rios Cururu e Creputiá. Com
o irmão Orlando, pacificou as tribos juruna, caiabi, txucarramãe, suiá, txicão
e crenacarore. Orlando e Cláudio publicaram, além de um diário sobre a longa
expedição inicial, trabalhos como Xingu: os índios, seus mitos (1971) e Índios
do Xingu (1972).
Leonardo
Villas Boas - Nasceu em Botucatu, em 1918. Membro, como os
outros, da Expedição Roncador-Xingu, viveu depois, por vários anos, no posto
Jacaré, no alto Xingu. Em 1961, foi encarregado de fundar um posto no alto
Kuluene, mas adoeceu e teve de ser retirado do sertão. Pacificou os índios
xicrin, ramo caiapó, do sudoeste do Pará, e tomou parte na Operação Bananal
(1960), organizada no governo de Juscelino Kubitschek. Foi também chefe da base
xavantina. Enfraquecido por doenças tropicais, morreu de miodicardite reumática
em São Paulo, a 6 de dezembro de 1961.
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